Sandoval Filho: “o bom advogado é, antes de tudo, um bom ouvinte”

Durante homenagem que recebeu em Ituverava (SP) no dia 12 de abril deste ano, o advogado Antônio Roberto Sandoval Filho, fundador da Advocacia Sandoval Filho, disse aos estudantes da Faculdade de Direito da Fafram (Faculdade de Ituverava “Dr. Francisco Maeda”) que “o bom advogado é, antes de tudo, um bom ouvinte”. Sandoval Filho é o patrono do Diretório da Faculdade de Direito e foi homenageado pelos estudantes, liderados por Felipe Augusto e Alexandre Nascimento, presidente e tesoureiro do Diretório.


(Na foto, da esq. à dir., os advogados Alexandre Nascimento e Antônio Roberto Sandoval Filho)

O evento da reinauguração da sede do Diretório Acadêmico de Direito, em que foi feita a homenagem à Antônio Roberto Sandoval, contou também com a participação do superintendente da Fundação Educacional de Ituverava, Luís Olavo Alves, que representou o presidente da FE, Pedro César Galassi. Também participaram: o coordenador do curso de Direito, Paulo de Tarso Oliveira; o advogado Eudes Lebrão, alunos do curso de Direito e os demais membros do Diretório Acadêmico da Fafram, como a vice-presidente Graziele Franco, o segundo tesoureiro Igor Nunes, a secretária Daiane Valeriano e o segundo secretário Gustavo Baesso. Membros das comissões de Esporte, Marketing, Jurídica, Social e Eventos também estiveram presentes. Veja aqui a galeria de fotos.

Leia a íntegra do discurso de agradecimento proferido pelo advogado Antônio Roberto Sandoval Filho:

Volto mais uma vez a minha cidade natal. Volto mais uma vez a Ituverava, onde tive a felicidade de viver minha infância e juventude com intensa liberdade e alegria.

Não quero, no entanto, falar do passado. Pois diante de mim está a Ituverava do presente.

Nos olhares de todos esses jovens, habita a esperança de um mundo melhor. Um mundo de mais prosperidade, mais justiça, mais trabalho e bem-estar social.


Enxergo em cada rosto o mesmo brilho que eu carregava quando fui a São Paulo cumprir uma missão muito desejada: eu queria me formar advogado.


Frequentei as Velhas Arcadas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, as mesmas que abrigaram personagens notáveis da Justiça, da cultura e da política deste país.

Lá aprendi muito do que sei.

Aprendi os Fundamentos do Direito ensinados pelo combativo professor Gofredo da Silva Telles. O mesmo professor que, anos mais tarde, assinaria a “Carta aos Brasileiros”, exigindo a retomada do caminho democrático e o fim do regime de exceção.

Conheci alguns dos líderes mais representativos do país, como Raimundo Faoro, Ulysses Guimarães, Paulo Brossard e tantos outros.

Os alunos de Direito da Fafram, têm o especial privilégio de estudar aqui mesmo em Ituverava, aqui mesmo nesta Faculdade. Devemos aplaudir sempre as inúmeras conquistas desta Faculdade.

Exemplo disso é o seu desempenho acadêmico, que tem sido agraciado no Enade com notas superiores a quatro. Aqui foram formados mais de três mil bacharéis em direito em quase 13 anos de atividades.

Tenho a certeza de que todos esses operadores do direito estão espalhados por nosso estado e nosso país assumindo responsabilidades e cumprindo bem o papel que desejaram ter na vida profissional. Tudo isso demonstra a qualidade e o vigor desta instituição de ensino.

Temos que que louvar também os demais cursos da Fafram e a liderança exercida por aquela que é a mantenedora de todo esse complexo educacional, que é a Fundação Educacional de Ituverava. São mais de 2.000 alunos matriculados em áreas como direito, engenharia, enfermagem, agronomia, veterinária e outras.

Se os números são expressivos, mais expressiva é a importância da Fundação para elevar o nível sociocultural de toda a nossa região.

Lembro-me da lição de Raimundo Pascoal Barbosa, considerado o “advogado dos advogados”. Quando um amigo questionou o “excessivo” número de cursos de direito no Brasil, Raimundo Pascoal Barbosa não pestanejou e disse:

“Quisera que todos os brasileiros estudassem Direito. Teríamos certamente um país muito melhor”.

Estava absolutamente certo o nosso Raimundo Pascoal Barbosa. Com ele concordava o professor e ex-ministro Darcy Ribeiro, um dos grandes nomes da educação em nosso país. Darcy também queria mais e melhores cursos de nível superior.

É visível em nosso país a força crescente dos Operadores do Direito. Sejam eles advogados, promotores, procuradores, juízes, servidores públicos, delegados e outros.

Isso acontece em parte graças a instituições como a Faculdade de Direito da Fafram e de outros centros desse mesmo quilate espalhados pelo país, que formaram e formam uma legião de competentes operadores do Direito.

O símbolo maior dessa força é a Operação Lava-Jato, que está desnudando a corrupção em todas as esferas do Poder.

O combate à corrupção não é tarefa de um homem só. É missão para todos os brasileiros de bem.

O Brasil que queremos é uma Nação livre dessa brutal e agressiva associação entre agentes políticos e empresariais que dilapida o patrimônio público.
Bilhões da corrupção já foram repatriados de contas no exterior. E outros tantos ainda virão. É um bom começo. Mas muito ainda precisa ser feito.

Caberá a vocês, futuros operadores do Direito, assumir a liderança desse processo, seja como delegados, promotores, procuradores ou mesmo juízes e desembargadores.

Sempre quis ser advogado.

Enxerguei desde cedo a profunda dimensão humana que há por dentro de um processo judicial.

Olhando mais fundo em cada processo ou arquivo digital há alguém sofrendo, padecendo de uma injustiça, precisando de ajuda, solicitando a intervenção da Justiça para o reconhecimento de um direito.

Ao lado dela, há um advogado trabalhando para bem cumprir o seu papel. O mundo precisa, mais do que nunca, de gente capaz de compreender gente.

O advogado tem esse papel. Ele precisa saber ouvir. Ter a mente e o coração abertos para compreender o cliente.
Aprendi isso, futuros colegas.

Um bom advogado é, antes de tudo, um bom ouvinte.

E foi ouvindo e compreendendo os percalços e sofrimentos de nossos clientes que tivemos o privilégio e a sorte de angariar centenas de milhares de pessoas que nos outorgaram a sua confiança através de um instrumento jurídico elementar, a procuração.

Ao longo dessas quase quatro décadas, vivi algumas experiências memoráveis. Fui diretor do Departamento Jurídico do Centro Acadêmico XI de Agosto, da São Francisco, que acolhia e acolhe pessoas pobres que não podem contratar advogados particulares.

Aquela experiência serviu para que eu reafirmasse a minha firme intenção de ser advogado. Assim como ontem, milhares de pessoas estão por aí à procura de quem compreenda a sua dor, o seu sofrimento, e que possa fazer alguma coisa efetiva para superar esse estado de coisas.

Conseguimos à frente do Jurídico do XI de Agosto melhorar a vida de muita gente sofrida.

Tive a oportunidade de dirigir também a área de Assistência Judiciária da OAB São Paulo, que colocava à disposição da população carente mais de 60 mil advogados em todo o Estado.

O advogado tem poder.

Tem poder o advogado que assume completamente a causa do cliente e que tem o necessário conhecimento técnico para levar adiante tal demanda. Tem poder, legal e legítimo, aquele que faz essa defesa com ética e respeito ao cliente e ao colega que defende a outra parte.

Nessa luta, não basta boa vontade. É preciso estudo, leitura, esforço e persistência.

Advogado bom precisa conhecer a legislação, a jurisprudência, a Constituição Federal e todos os principais arcabouços legais. Com base nesse conhecimento, ele deverá encontrar os caminhos para fazer a adequada defesa do seu cliente.

O exercício da Advocacia é exigente. E requer coragem para ser plenamente exercido.

Quando iniciamos nossa jornada profissional, ouvi de muita gente que a defesa dos funcionários públicos era uma tarefa inútil e perdida de antemão.

Que o Estado jamais perderia as ações e que, se perdesse, não iria honrar a sua dívida.

Nunca acreditei nisso.

Mantive a convicção de que a Justiça vale para todos, para o forte e para o fraco, para o rico e para o pobre, ainda que não seja perfeita.

Com 40 anos de atividade profissional, posso dizer que nossa luta valeu a pena.

Milhares de servidores públicos encontraram na Justiça a satisfação de seus pleitos. E outros ainda o farão nos próximos anos.

“O que a vida quer da gente é coragem”.

Esta é a lição de Guimarães Rosa.

A vida, de fato, nos exige coragem.

Coragem para viver, para exercer nossa profissão com ética e dignidade.

Coragem para, com a arma afiada do direito, enfrentar os poderosos.

Agradeço, de coração, à homenagem que me foi conferida. É uma honra ser o patrono do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito da Fafram.

Participo com alegria da reinauguração dessa sala, que agora ganha nova configuração.

Agradeço ao Presidente da Fundação Educacional de Ituverava, Pedro Cesar Galassi, uma instituição que vem prestando relevantes serviços a Ituverava e região.
Agradeço ao diretor da Fafram, professor Marcio Pereira, e ao Coordenador do Curso de Direito, professor Paulo de Tarso de Oliveira.

Cumprimento também o presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito, Felipe Augusto de Oliveira Rosa.
E o tesoureiro da mesma entidade, Alexandre Nascimento, além de todos os demais integrantes deste combativo Diretório Acadêmico.

Deixo uma palavra final aos jovens estudantes de direito aqui presentes.

Não esmoreçam!

Nunca deixem de acreditar na Justiça.

Jamais negligenciem na defesa da democracia e do Estado Democrático de Direito.

O Brasil precisa de gente como vocês. Estudem bastante, procurando a cada momento um novo aprimoramento acadêmico e profissional.

Somos ainda uma Nação jovem, com pouco mais de 500 anos. Haveremos de superar, com a força e a inteligência do nosso povo, o momento difícil que atravessamos.

Vamos oferecer algum sacrifício hoje para que nossos filhos e netos tenham um futuro mais promissor.

Com coragem, inteligência, trabalho e serenidade, haveremos de incluir o Brasil entre as nações mais civilizadas deste planeta.

Parabéns a todos e obrigado pela homenagem.

Antônio Roberto Sandoval Filho
Ituverava, 12 de abril de 2017

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